Levando a sério esta minha nova carreira de desenCAVAR tesouros, fui à luta e encontrei mais esta pérola. Este mail foi enviado pela Cath ao Joca, ainda dentro daquele espírito paraúnico que começou com um inocente mail meu ao Joca numa 4ª feira de abril. (Lú, 20/09/2002)

Memórias Paraúnicas

De: Catarina Peret Barbosa
Para: José Carlos Machado Vieira
Data: Sexta-feira, 7 de Maio de 1999 21:36

Assunto: Memórias Paraúnicas

Oi. Primo! Tudo ok?
Por que a Lúcia foi privilegiada com ‘Memórias Paraúnicas'?
Em matéria de sessão nostalgia, o campo aqui é bem mais vasto. Tenho nove anos de chão a mais que ela.
Adorei seus detalhes paraunescos na carta da Lúcia e aqui vão outros:
café da tarde com todos à mesa e vovó sempre no comando quando não estava acamada. Serviam entre outras guloseimas, o tradicional bolo de fubá de tia Sophia. Muitos saboreavam uma cabecinha de Fanny. Sabe o que é isso? E a cafeteira de alumínio, você se lembra? Tinha uma tampinha no bico (feita de tampa de garrafa de leite) para não esfriar o café.
Mais tarde compraram garrafa térmica.
E as goiabas ensacadas uma a uma para não dar bicho? E as bananas ouro?
O terreno lá era bem brasileiro, tipo: ‘em se plantando tudo dá’.
—. Lembro-me do tio Cyro, com sua espirituosidade, dizendo ao presenciar tio Raphael de volta do quintal com uma cesta cheia de ovos recém colhidos: _ "Da granja São Raphael?"
E a coleção de santinhos da tia Conceição? Tinha pra todo gosto e necessidade. Por falar nela, com você também ela mediu altura até que você a passou?
E a sala de aula mágica de tia Eponina onde só de entrar já se aprendia? Lembro-me de tia Eponina furiosa com os meninos do tio Manoel o dia em que eles, após fazerem uma faxina em casa, levaram-lhe livros velhos dizendo ser para o "museu" dela.
Uma coisa me impressionava muito e quando bem pequena, me fazia medo: o totem indígena que ficava num canto da sala. Aliás, certa vez, num carnaval, Maria Virgínia e eu nos fantasiamos de índias com fantasia igual para ir ao Olímpico. Vovó fez questão de que fôssemos lá e tirássemos fotos no terraço com o totem entre nós. Cena hilariante. Tenho a foto. Depois lhe mostro.
O Natal era uma curtição. A gente saía de lá com milhares de presentes e o mais engraçado é que, ao entregá-los, cada um que presenteava indicava uma utilidade para o presente. Tia Conceição então era ótima. O Rodin que o diga. Como ele era otorrino, cuidava dos problemas que ela tinha nos ouvidos. Gratíssima (palavra usual no vocabulário dela), tia Conceição o presenteou mais de uma vez com uma gravata e um lenço. A gravata para ir à missa e o lenço para se ajoelhar na igreja.
Dentre todos os presépios que você relembrou com a Lúcia, houve um sui generis: feito de bolinhas de gude pelo tio Raphael e que entrou, eu acho, em um concurso.
Quanto ao telefone encapado de vermelho, certa vez me fez perder pontos lá: perguntei se era para falar com a Rússia. Já imaginou? Naquela época não se podia nem de longe falar em comunismo. Mas passou logo. Devo ter arranjado um outro assunto para me redimir.
Você era bastante jovem, mas deve se lembrar das horas dançantes promovidas pela vovó e das festinhas para os alunos do terceiro científico que sempre chamavam o tio Antonico para paraninfo. Vovó colocava as netas para servir os salgadinhos, cerveja e uma outra bebida que eu não conseguia identificar se era vinho ou suco de uva. Mas era gostoso.
Em meio a tantas lembranças ficam na memória frases e palavras que a gente costumava ouvir só lá: tupinambur, dulcíssimo, andaço, fovero e outras.
Você já ouviu falar em: "neblina baixa, sol que racha"?
"Neblina na serra, chuva na terra"?
Minhas irmãs contam algo que não aproveitei lá, pois já conheci tia Fanny bem devagar. Elas dizem que tia Fanny promovia uma tarde de jogos e o mais interessante era uma roleta que ela criou com todos os números premiados. A sobrinhada (a esta altura só havia os filhos da minha mãe até o Leonardo) se divertia.
Bem, isso é um pouco do que lembro. Esforçando mais é claro que outros fatos vêm à memória. Acho que cada primo teria algo para contribuir se resolvêssemos escrever um livro: "Memórias Paraúnicas". Nossa família é muito especial mesmo. Pena que as pessoas se vão e ficam as doces lembranças. Será que nós conseguiremos ser especiais para nossos descendentes com a vida corrida de hoje? Será que eles também terão coisas simples, porém marcantes para recordar? Temos que saber segurar certos valores.
Olha, não vejo a hora de chegar o dia do casamento da filha da Francisca (26/06). Será uma oportunidade de rever os primos que lá aparecerem. Lúcia também espera por esse dia.Que seja o ponto de partida para muitos encontros e que a gente não deixe escapar essa chance, pois família sempre foi e nunca vai deixar de ser uma grande invenção.
Abraços a todos vocês.
Catharina

PS. Ufa! Te aluguei.

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