A QUÍMICA DAS CORES DO OUTONO
A cada outono, no hemisfério norte, a redução da duração da luz do dia e as temperaturas em queda induzem as árvores a se prepararem para o inverno. Assim, elas perdem bilhões de toneladas de folhas. Em certas regiões, como a nossa, a queda das folhas é precedida por um espetáculo de cores feéricas. As folhas anteriormente verdes adquirem brilhantes tonalidades de amarelo, laranja e vermelho. Estas mudanças de cor são o resultado da transformação dos pigmentos presentes nas folhas.
O pigmento verde das folhas é a clorofila. Ela absorve os elementos vermelho e azul da luz solar. Desta maneira, a luz refletida, menos vermelha e menos azul, aparece verde. As moléculas de clorofila são grandes (C55H70MgN4O6) e insolúveis no meio aquoso que preenche as células. Elas são fixas às membranas dos cloroplastos, estruturas semelhantes a discos, presentes no interior das células. Os cloroplastos são a sede da fotossíntese, o processo pelo qual a energia luminosa é convertida em energia química. Dentro dos cloroplastos, a luz absorvida pela clorofila fornece a energia usada pelas plantas para transformar o dióxido de carbono e a água em oxigênio e carboidratos, cuja fórmula geral é Cx(H2O)y.
x CO2 + y H2O | luz | x O2 + Cx(H2O)y |
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clorofila |
Nesta transformação endotérmica, a energia da luz
absorvida pela clorofila é convertida em energia química,
que é armazenada nos carboidratos (açúcares e amido).
Esta energia química é a base das reações bioquímicas
responsáveis pelo crescimento, produção de flores
e sementes.
A clorofila não é um composto muito estável e
a luz brilhante do sol provoca sua decomposição. Para manter
a clorofila nas suas folhas, as plantas a sintetizam continuamente. Esta
síntese requer luz solar e temperaturas quentes. Assim, durante
o verão, a clorofila é constantemente renovada nas folhas
das árvores.
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Vidoeiro |
Um outro pigmento encontrado nas folhas de muitas plantas é o
caroteno. Este absorve as cores azul-verde e azul da luz. A luz refletida
pelo caroteno aparece amarela. Este pigmento constitui-se em uma molécula
também grande (C40H36) contida nos cloroplastos
de muitas plantas. Quando o caroteno e a clorofila estão presentes
numa mesma folha, juntos eles removem as cores vermelha, azul-verde e azul
da luz solar. A luz refletida aparece verde. O caroteno funciona como um
acessório. A energia da luz absorvida por este pigmento é
transferida à clorofila, que a usa na fotossíntese. O caroteno
é um composto muito mais estável que a clorofila. Ele persiste
nas folhas mesmo após o desaparecimento da clorofila. Quando esta
desaparece, o caroteno remanescente confere à folha uma cor amarela.
Um terceiro pigmento, ou classe de pigmentos, que ocorre nas folhas,
são as antocianinas. Elas absorvem a luz azul, azul-verde e verde.
Desta maneira, a luz refletida pelas folhas que contêm antocianinas
aparece vermelha. Contrariamente à clorofila e ao caroteno, as antocianinas
não são fixas às membranas das células, mas
dissolvidas no citoplasma. A cor produzida por estes pigmentos é
sensível ao pH do citoplasma da célula. Se este é
muito ácido, a cor se torna mais purpúrea. Estes pigmentos
são responsáveis pela cor vermelha das maçãs
maduras e pela cor purpúrea das uvas maduras. Eles são formados
pela reação entre os açúcares e certas
proteínas dentro do citoplasma. Esta reação ocorre
somente quando a concentração de açúcar no
citoplasma é muito grande e requer, também, a presença
de luz. É por isto que, freqüentemente, vemos maçãs
vermelhas de um lado e verdes do outro; o lado vermelho é o que
estaria voltado para o sol e o lado verde é o que estaria na sombra.
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Ácer vermelho |
Durante o verão, as folhas das árvores são fábricas
que produzem açúcar a partir do dióxido de carbono
e da água, pela ação da luz na clorofila. Esta, por
sua vez, faz com que as folhas tomem a cor verde (as folhas de algumas
árvores, tais como os vidoeiros e os choupos-do-canadá, também
contêm caroteno; suas folhas são de cor verde mais brilhante
porque o caroteno absorve a luz azul-verde). A água e os nutrientes
fluem das raízes até os ramos e as folhas. Os açúcares
produzidos pela fotossíntese fluem das folhas para outras partes
da árvore, parte da energia sendo utilizada para o crescimento e
outra parte armazenada. O encurtamento dos dias e as noites frias do outono,
desencadeiam mudanças na árvore. Uma dessas mudanças
é o crescimento de uma membrana semelhante à cortiça
entre um ramo e o caule da folha. Esta membrana interfere na circulação
de nutrientes para dentro da folha. Estando o fluxo de nutrientes bloqueado,
a produção de clorofila diminui e a cor verde desbota.
Se a folha contém caroteno, como acontece com o vidoeiro e com a
nogueira americana, sua cor muda de verde para amarelo brilhante, à
medida que a clorofila desaparece. Em algumas árvores, à
medida que a concentração de açúcar aumenta
na folha, uma reação ocorre para formar as antocianinas.
Estes pigmentos tornam vermelhas as folhas amarelecidas. Os áceres,
os carvalhos e alguns sumagres produzem antocianinas em abundância
e são os que apresentam as folhas mais vermelhas e brilhantes na
paisagem outonal.
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Ácer do açúcar |
A variedade e a intensidade das cores do outono são grandemente influenciadas pelo clima. Baixas temperaturas destróem a clorofila. Se a temperatura permanece acima do ponto de congelação, ocorre a formação das antocianinas. O sol brilhante também destrói a clorofila e aumenta a produção de antocianina. Um clima seco, pelo fato de aumentar a concentração de açúcar no citoplasma, aumenta também a formação de antocianina. Assim, as cores mais brilhantes do outono são produzidas quando dias secos e ensolarados são seguidos por noites frias e secas.
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Carvalho |
Nos últimos anos, as cores do outono têm atraído
mais e mais turistas e viajantes aos locais onde este fenômeno se
manifesta mais intensamente. Para uma relação detalhada destes
lugares vá a: Recreational
fall.
Para Québec, veja Symphonie
des couleurs
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Sumagre |
Fonte: The Chemistry of Autumn Colors -- October 5, 1998, do professor americano Shakhashiri.